quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

DIRETAS JÁ

Adalberto Viviani foi um grande revolucionário na sua juventude,o Jovem Protagonista fez uma entrevista exclusiva com ele.Divirta-se.



Nome- Adalberto Viviani
Idade-52 anos
Profissão-Publicitário

Qual foi a sua participação nas "Diretas Já"?

As Diretas Já foram resultado de um conjunto de mobilizações. O movimento explodiu em 83 mas em 1982 começavam as discussões especialmente em setores de esquerda. Eu era ativista de uma organização chamada Convergência Socialista. Nesta organização eu era um dos responsáveis pela organização dos atos, divulgar, mobilizar, organizar atividades com outros grupos. Organização.



Resumidamente, explique o que foi as “Diretas Já” para você, e o que isso trouxe de positivo e/ou negativo pra sua vida pessoal.

O movimento das Diretas Já trouxe para a cena política a sociedade como um todo. O que aconteceu é que de 1964 até 1979 houve um afunilamento da participação da sociedade na vida política. Os movimentos de resistência aconteceram em organizações pequenas e pouco enraizadas. Na década de 70 houve uma mobilização nos setores estudantis e em 1977 começa a retomada dos movimentos sindicais, especialmente na região do ABC. Este movimento era ainda setorizado e apavorava a classe média. Ainda havia a repressão e um recrudescimento da crise econômica. Com a anistia houve o retorno de muitos exilados, cresceu a pressão contra o governo militar e a sociedade passou a ficar mais sensibilizada com o tema. Mas a sensibilização democrática tinha a raiz do desencantamento do País do Futuro.

O movimento das Diretas construiu um processo de unidade da sociedade em uma causa comum. As mobilizações históricas criaram um processo de unidade. Pessoalmente as Diretas constituíram um processo em que é possível tornar sonhos em realidade. Imaginar uma sociedade justa e lutar por ela. Concretizar. É possível mudar desde que se dedique a esta mudança.

A comunicação é a ferramenta mais importante nesses movimentos revolucionários, hoje nós temos acesso a mídias que na época das “Diretas Já” eram inimagináveis. Como o movimento trabalhou a comunicação dos ideais? Qual era a forma de chamar a atenção das pessoas pra mostrar que as “Diretas Já” era um movimento importante e que deveria ser visto e analisado pela população?



A comunicação não é o processo mais importante de um processo de mobilização. O mais importante é haverem as condições objetivas para a mudança. E a comunicação é um instrumento para propagar e unir pessoas. Mas o que as leva para as ruas é a necessidade objetiva. Sem ela a mobilização não acontece. O contrário desta moeda é o seguinte: as organizações de esquerda perderam o contato com os movimentos sociais. A maneira como elas tentam dialogar com os jovens se perdeu. Falam e não são ouvidos. Na verdade não existem as condições objetivas para a proposta que eles tem. Não há mais aderência. Mas volta e meia ela reaparece.

Como você julga a participação do jovem atual na política brasileira? Qual a sua opinião sobre o movimento Ocupa Sampa, e todos os outros Occupy que acontecem no mundo hoje?



Acho a participação baixa, mas explicável. O Brasil entrou em um ciclo de prosperidade. O país cresce, as condições de vida melhoram. Os jovens se mobilizam por questões distintas. Assim, as reivindicações mudam e a visão ampla de mundo tende a ser alterada. Também vejo diferenças entre os movimentos no exterior e no Brasil. O movimento na Europa e EUA tem como raiz o questionamento da globalização, da crise econômica onde efetivamente a crise existe. É uma mudança de paradigma. A crise atinge os países desenvolvidos. No Brasil o movimento tem menor aderência pois o diálogo sobre o tema está esmaecido pelo desenvolvimento econômico. Ele tende a ter um perfil distinto.



Uma grande diferença entre o movimento “Occupy” e as “Diretas Já” é que os novos movimentos se auto denominam como apartidários, você acha que é possível que se instale um ideal apartidário nas pessoas a partir desse movimento? Qual era a posição política das “Diretas Já”?

O Diretas Já era suprapartidário. Todos os partidos estavam juntos. Os movimentos de ocupação ainda devem responder a uma pergunta: em que mundo querem viver e como chegar a ele? Não vai bastar pressionar os líderes mundiais. Será preciso substituí-los. Assim, ele pode ser apartidário, mas nunca apolítico. E daí para se aliarem a movimentos políticos será não apenas um passo, mas também uma necessidade. Se não houver um tipo de organização a mobilização vai se dissipar.



Na sua visão, qual a importância da internet nesses novos movimentos? Você acha que as redes sociais, as novas mídias, fazem a diferença pra conscientização das pessoas? Por quê?

A internet e as redes sociais são importantes fundamentalmente por diversos motivos. Em primeiro lugar dão velocidade real aos acontecimentos. Também descentraliza a discussão e talvez isso seja o mais importante. O pensamento se torna coletivo, pelo bem e pelo mau. Uma opinião encontra adeptos, contraditos e versões imediatamente. Existe sempre o risco de construção de uma onda de dispersão de foco. Mas a descentralização do pensamento é uma característica e uma oportunidade.

Já com relação a conscientização acho que elas podem fazer a diferença. Mas ainda me espanta alguém colocar uma citação séria, sobre um tema importante, no Facebook e duas pessoas curtirem. E depois dizer “estou preso no congestionamento” e a mensagem ter 80 comentários. É um perfil da sociedade em que a notícia é postada. Não é um problema do meio. É um desenho da realidade.

André Azambuja

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